7 de julho de 2011

Brasil Afrobrasileiro Maria Nazareth Soares Fonseca Org






Brasil Afro-brasileiro

Maria Nazareth Soares Fonseca Org

editora: Autentica

ano: 2006

estante: sociologia.

descrição: brochura, 16x23cm, 352 pgs, ótimo estado



Com uma proposta multidisciplinar, o livro pretende contribuir para o aprofundamento da discussão dos processos produzidos pela sociedade brasileira de invisibilidade das diferenças quando, de alguma forma, procura apaziguar os conflitos étnico-raciais para fortalecer-se enquanto totalidade harmônica e integrada.


A marca desse livro é a diversidade de enfoques que são dados à cultura afro-brasileira. São olhares do ponto de vista da antropologia da história e da literatura. Estão reunidos nessa obra artigos que se propõem a refletir de forma crítica sobre a situação do negro brasileiro no
contexto das relações inter-raciais.

São abordados temas como a configuração da identidade nacional, a imagem do negro no meio literário, a questão de gênero, a dimensão religiosa, a esfera estética e visual, a memória histórico-cultural dos grupos negros, as manifestações de uma negritude presentes no campo literário e no campo musical jovem, como é o caso do hip-hop, bem como a especificidade do trabalho antropológico junto a parcelas dessa população, suas implicações e desafios.


Lilia Schwarcz inicia a coletânea em um artigo que destaca a impor-
tância do conceito de raça na construção do Brasil como nação. A autora nos mostra que a discussão sobre a superioridade racial presente nesse período impossibilitou o debate sobre a cidadania das populações negras e mestiças.

Em Inumeráveis Cabeças. Tradições Afro-Brasileiras e Horizontes da Contemporaneidade, Edimilson Pereira e Nubia Gomes discutem as relações entre tradição e modernidade num contexto de pós-modernidade.



Leda Maria Martins propõe que se estude os rituais conhecidos como “congadas” e “moçambique” a partir do conceito de encruzilhada. Para ela, essas expressões culturais brasileiras delineiam o trajeto dos negros da África às Américas. A autora acredita que a adoção do conceito de encruzilhada possibilita o deslocamento de uma noção de centro cultural irradiador, de
mestiçagem, sincretismo e fusão.



Maria Nazareth Soares Fonseca nos incita a pensar sobre qual o lugar do negro no Brasil, a partir das representações do negro e negrura que circulam em textos produzidos desde o final do século XVIII, que tratam das questões relativas à nação e à identidade nacional, até estudos contemporâneos, como os de Florestan Fernandes e Lilia Schwarcz. Para ela, o que ocorre na maior parte deles é uma negação da cidadania, que retrata qual é o papel da questão da cor e da raça no imaginário da nação.




Comunicação, Identidade Cultural e Racismo é um texto que busca refletir sobre as narrativas produzidas sobre a identidade brasileira. Elas são tomadas por Dalmir Francisco enquanto forma de organizar a experiência, e configuram dois tipos de identidade: uma da mesmidade, que funcionaria para as elites que idealizam um país, um estado-nação para si, e outra da
diferença entre brancos e não brancos, trabalhadores e proprietários. Tomando essa perspectiva, como o negro seria visto no Brasil?


Maria J. Somelarte Barbosa questiona a forma negativa como Exu é conhecido nas religiões afro-brasileiras, uma vez que originalmente na África ele era e é considerado uma força criadora, geradora e onipresente, cuja existência se faz nas margens, nos limites. O caráter benéfico ou maléfico de Exu dependeria das energias de quem o invoca. A autora empreende uma aproximação entre as características de Exu e as da linguagem e palavra, ambas estão sujeitas a transformações em seus significados, a ambivalências, apresentando várias facetas. Para ela a característica mais importante a ser considerada é o poder de comunicação atribuído a Exu.



Em Pierre Verger. O Olhar Daquele “que nasceu de novo pela graça do Ifá”, Vera Casa Nova utiliza textos e imagens dos livros do autor – Orixás e Lendas Africanas dos Orixás – mostrando como o recurso fotográfico possibilita uma ampliação dos sentidos da situação descrita do
ritual, revelando aspectos que tornam esse acontecimento mais pleno de sentido. A fotografia dessas cerimônias, segundo a autora, evoca os mitos e todos os seus componentes simbólicos, nos remetendo também à memória coletiva e à consciência religiosa. No livro Orixás as fotos trazem a
experiência da memória, das origens de onde emana a autoridade religiosa, logo, o seu poder. O artigo pode ser definido como uma etnografia das imagens presentes nos dois livros de Pierre Verger.



Micael Herschmann integra a coletânea de textos com um estudo sobre o impacto produzido pelo hip-hop em São Paulo. Ele o percebe como um lugar de sociabilidade em que os jovens das periferias expressam o seu descontentamento. O hip-hop de São Paulo se contrapõe ao funk carioca, hostilizando-o pelo conteúdo leve das músicas, que não contribuiriam para uma conscientização da condição social ou racial.



Enquanto uma reflexão sobre o racismo no Brasil, mais especificamente o preconceito contra a mulher negra, Feminino no Plural. Negras no Brasil, de Lidia A. Estanislau, procura mostrar como esta ocupa profissões desprestigiadas socialmente e mal remuneradas. Ela faz uma breve revisão bibliográfica sobre os estudos que repertoriam a trajetória das mulheres
negras na história brasileira. Esses trabalhos mostram que, apesar de serem muito visíveis pela sua cor, as mulheres negras são geralmente invisíveis enquanto sujeitos históricos e sociais.




Ruth Landes esteve na Bahia entre os anos de 1938-39. Essa antropóloga americana debruçou-se sobre a questão das relações raciais brasileiras, mais especificamente sobre as formas de sociabilidade dos negros junto aos terreiros de candomblé e o papel das mulheres nesse contexto. Em seu artigo sobre a obra dessa autora, denominada: A Cidade das Mulheres, Nilma Lino Gomes busca problematizar a questão da subjetividade do pesquisador, do antropólogo, não apenas na sua relação com o outro, mas com a academia e com a produção da sua pesquisa.



Alecsandro J. P. Ratts procura dar conta do fenômeno do “aquilombamento”, explorando os sentidos do termo no Brasil e na África. Ele enfoca a mobilização política contemporânea acerca do tema e os desdobramentos desse “aparecimento” em diversos campos. Seu texto traça aproximações entre os quilombos brasileiros e africanos para, em seguida, mapear os estudos que contribuíram para definir o que viria a ser um quilombo.

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