O Negro Brasileiro
Arthur Ramos
1934
Ed. Civilização Brasileira
bom estado de conservação, brochura, ethnographia religiosa e psychanalyse, 303 págs. 1ª edição
livro em bom estado de conservação, encadernado em percalux, com muitas ilustrações, algumas extremamente escassas.
Um livro de referência a todo candomblecista e estudioso do assunto. Livro
mestre de toda a obra antropológica e etnológica de Arthur Ramos, o
presente trabalho de etnografia religiosa é referência obrigatória para
os estudiosos da presença africana no Brasil e da sua verdadeira
história étnica e cultural em terras do Novo Mundo.
O próprio
autor sublinha que “o presente trabalho é o primeiro resultado de um
largo inquérito procedido diretamente nos “candomblés” da Bahia, nas
“macumbas” do Rio de Janeiro e nos “catimbós” de alguns Estados do
Nordeste, sobre as formas elementares do sentimento religioso de origem
negra, no Brasil.”
Duas novidades
garantiram a importância de "O Negro Brasileiro" na época de sua edição.
A primeira foi a ampliação da área de estudos sobre a religiosidade de
origem africana que incluiu, além dos terreiros baianos de tradição
ritual sudanesa, estudados por Nina Rodrigues, os catimbós do Nordeste e
os terreiros de tradição ritual banto (as chamadas "macumbas") do Rio
de Janeiro e de São Paulo. A segunda foi que essa religiosidade deixou
de ser entendida como manifestação de uma suposta inferioridade da raça
negra, e por meio dela se criticou o próprio conceito de raça,
substituindo-o pelo de cultura.
A primeira parte dele é dedicada às "Religiões e cultos negros no Brasil" e a segunda à "Exegese psicanalítica".
Na
introdução do livro, o autor agrupa a origem étnica dos negros
introduzidos no Brasil em dois grandes grupos: os sudaneses (basicamente
iorubas ou nagôs e jêjes) e os bantos (angolas, congos, cambindas,
benguelas etc.).
Compartilhando a idéia da superioridade cultural
do sistema mítico dos sudaneses, defendida por Nina Rodrigues, Ramos
descreve esse sistema enquanto liturgia de uma "religião" (capítulos I e
II), contrastando-o com os "cultos" descritos nos outros capítulos,
dedicados às práticas dos malês - negros islamizados - (capítulo III) e
principalmente dos bantos (capítulo IV), estes inclusive mais próximos
do "sincretismo religioso" (capítulo V) e das "práticas mágicas" de
feitiçaria e curandeirismo (capítulo VI). Como se vê pela própria
organização e título dos capítulos há uma idéia implícita de
diferenciação e hierarquização entre um "sistema de religião" mais
"coeso" e "puro" (jejê-nagô) e "sistemas de culto" mais "impuros" e
"sincréticos" (malês, bantos etc.).
Em Salvador, Ramos
centralizou suas pesquisas no terreiro do Gantois, como já havia feito
Nina Rodrigues, tomando-o como "um do mais antigos" e "modelo para os
demais".
Os cultos bantos, predominantes na região sudeste do país
foram vistos em termos de uma suposta "pobreza mítica" contrastada com o
modelo baiano de candomblé.
Daí terem sido tão facilmente
influenciados pela mitologia jêje-nagô que lhes teria imposto seus
orixás, pelas idéias do catolicismo e do espiritismo e pelas
sobrevivências de cultos ameríndios.
Para Ramos, os cultos de
procedência banto, caracterizados por uma "mitologia paupérrima" e
facilmente sincretizado com elementos de outras culturas, como a
européia e ameríndia, poderiam ser descritos na forma da macumba, tal
como era praticada, principalmente no Rio de Janeiro. Os terreiros de
macumba foram vistos então pelo autor como "toscos e simples", sem a
"teoria de corredores e compartimentos dos terreiros jêje-iorubanos", a
estrutura hierárquica seria relativamente simples e as divindades
apresentar-se-iam divididas por linhas ou falanges e tanto mais poderoso
seria o pai-de-santo quanto maior fosse o número de linhas em que ele
trabalhasse.
Nas macumbas o transe seria muito freqüente tendo muito
de efeito procurado ou simulado, contrariamente ao candomblé onde a
"queda no santo" é demorada e exige cerimônias especiais.
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